Os eclipses da Lua ocorrem toda vez que o nosso satélite penetra no cone de sombra projetado pela Terra no espaço. Estando, portanto, do lado oposto do Sol, os eclipses lunares só podem ter lugar quando a Lua passa pela fase de cheia. No próximo dia 15 de abril de 2014 ocorrerá um eclipse total da Lua que poderá ser observado em quase todas as suas fase em todo o território brasileiro. Saiba como observar.
Fig.
1 - Esquema geral de ocorrência dos eclipses lunares.
Iluminada pelo Sol, a
Terra projeta no espaço dois cones: um de sombra e um de penumbra.
Em seu movimento orbital ao redor da Terra, em certas ocasiões, a
Lua penetra no cone de penumbra e temos o chamado eclipse penumbral,
muito difícil de ser observado, uma vez que a atenuação do brilho
lunar é quase imperceptível. Em determinadas condições a Lua pode
atravessar parcial ou totalmente o cone de sombra, ocorrendo aí, o
ECLIPSE LUNAR propriamente dito.
No início da madrugada
de 15 de abril poderemos observar (se as condições meteorológicas
permitirem) um ECLIPSE TOTAL DA LUA, cujas etapas ocorrerão nos
horários relacionados na tabela adiante. Os horários foram
calculados pelo método de Danjon, com aumento no raio angular
aparente da sombra e da penumbra  a partir da introdução de
correções no valor da paralaxe lunar.
Os horários das
ocorrências das diversas fases valem para o fuso -3h (ou 3h oeste).
Para as localidades situadas nos fusos (-4h) e (-5h), subtrair
respectivamente 1h e 2h dos horários indicados. Assim, por exemplo,
em Manaus-AM, situada no fuso (-4h), o meio do eclipse ocorre às 03h
46m.
Fig.
1 - Esquema geral de ocorrência dos eclipses lunares.
TABELA 1 - HORÁRIOS DAS OCORRÊNCIAS DAS DIVERSAS FASES
| 
FASES | 
HORÁRIOS | ||
| 
1 | 
Entrada
    da Lua na penumbra | 
P1 | 
01h
    54m | 
| 
2 | 
Entrada
    da Lua na sombra | 
U1 | 
02h
    58m | 
| 
3 | 
Início
    do eclipse total | 
U2 | 
04h
    07m | 
| 
4 | 
Meio
    do eclipse | 
M | 
04h
    46m | 
| 
5 | 
Fim
    do eclipse total | 
U3 | 
05h
    25m | 
| 
6 | 
Saída
    da Lua da sombra | 
U4 | 
06h
    33m | 
| 
7 | 
Saída
    da Lua da penumbra | 
P4 | 
07h
    38m | 
TABELA
2 - OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE O ECLIPSE
| 
EVENTO | 
DURAÇÃO | |
| 
Duração
    do eclipse total | 
U3
    - U2 | 
01h
    18m | 
| 
Duração
    do eclipse pela sombra | 
U4
    - U1 | 
03h
    35m | 
| 
Duração
    total do eclipse | 
P4
    - P1 | 
05h
    44m | 
| 
Grandeza
    do eclipse pela sombra | 
g | 
1,291 | 
TABELA
3 – NASCER E OCASO DO SOL E DA LUA
| 
HORÁRIOS | |
| 
Nascer
    da Lua em São Paulo* | 
17h
    30m | 
| 
Passagem
    Meridiana da Lua em São Paulo* | 
23h
    57m | 
| 
Lua
    Cheia** | 
04h
    42m | 
| 
Ocaso
    da Lua em São Paulo** | 
06h
    27m | 
| 
Nascer
    do Sol em São Paulo** | 
06h
    20m | 
                 *
Em 14 de abril de 2014
                        ** 
Em 15 de abril de 2014
O
diagrama seguinte representa um corte da região da penumbra e da
sombra projetadas pela Terra, na posição correspondente à
distância da Lua, ilustrando as diversas fases do fenômeno que
poderá observado. A Lua permanecerá totalmente imersa na sombra da
Terra (intervalo U3-U2) durante 01 hora e 18 minutos, cerca de 30
minutos a menos do que a máxima duração possível para esse tipo
de fenômeno que é de 1h 47min.
Fig.
2 - As diversas etapas do eclipse total da Lua de 15 de abril de
2014. Diagrama de Irineu G. Varella.
Embora
sendo um astro iluminado pelo Sol e estando imersa na sombra da
Terra, a Lua não se tornará invisível. É que uma parte dos raios
solares que atravessa a atmosfera terrestre sofre desvio (refração), penetra no cone de sombra e atinge o disco lunar permitindo sua
percepção. As condições atmosféricas da Terra, no momento do
eclipse, determinam a coloração da Lua no instante da totalidade.
Em muitas ocasiões, a Lua se apresenta com uma coloração
alaranjada, em outras avermelhada e, em alguns eclipses, com um tom
marrom escuro, quando na atmosfera existem grandes quantidades de
partículas geradas, principalmente, pelas erupções vulcânicas.
Fig.
3 - Espalhamento e refração da luz solar pela atmosfera terrestre.
Diagrama de Irineu G. Varella.
A
luz solar é composta por radiações de várias cores (várias
freqüências). Quando a luz do Sol atinge a atmosfera,
atravessando-a de forma razante como na figura acima, as moléculas
do ar produzem o espalhamento da luz azul em todas as direções. As
radiações de maior comprimento de onda (alaranjada e vermelha)
são desviadas para dentro do cone de sombra, dando essas tonalidades
à Lua à medida que o eclipse se desenvolve. A imagem adiante
ilustra a coloração da Lua durante o eclipse total de 20 de janeiro
de 2000. Foto divulgada pela NASA em 02.Fev.2000.
Fig.
4 - Aspectos da Lua na fase central de um eclipse. Fotos
de Stephen Barnes - 20.Jan.2000
A
OBSERVAÇÃO DO ECLIPSE
O eclipse poderá ser
observado a olho nu ou com o auxílio de binóculos, lunetas ou
telescópios, uma vez que este fenômeno não traz quaisquer
prejuízos à visão, ao contrário do que ocorre com os eclipses
solares. O amador em astronomia que disponha de um pequeno
instrumento para a observação poderá acompanhá-lo cronometrando
os instantes das diversas fases, assim como a passagem da sombra
pelas inúmeras crateras, mares e montanhas lunares.
Diferentes regiões da
Lua estarão em diferentes partes da sombra e poderemos notar
diferenças no brilho e na coloração do disco lunar. O limbo
sudoeste, mais próximo da borda da sombra, se apresentará mais
claro que o limbo nordeste que estará próximo do centro da sombra. 
Para um observador em
São Paulo, no instante do meio do eclipse, a Lua estará com 21,5º
de altura e 268,5º de azimute (contado a partir do ponto cardeal
norte no sentido norte - leste - sul - oeste).
IMPORTÂNCIA
DOS ECLIPSES LUNARES
Do ponto de vista
científico, os eclipses lunares têm menor importância que os
eclipses solares. Mesmo assim, há observações e medidas que
permitem melhorar o conhecimento científico. Por exemplo: a
observação da Lua na faixa do infra-vermelho, durante a sua entrada
na sombra da Terra e no período em que ela se encontra mergulhada no
interior do cone de sombra terrestre, oferece material científico
para se estudar as variações das temperaturas na superfície lunar
à medida que nosso satélite é obscurecido.
As observações das
diversas fases do eclipse lunar e a cronometragem dos instantes em
que a sombra da Terra passa por algumas crateras lunares, permitem,
pela comparação entre os instantes observados e os previstos,
melhorar o nosso conhecimento sobre o movimento orbital da Lua, sobre
o movimento de rotação da Terra e aprimorar os métodos de cálculo
e as teorias de previsão dos eclipses.
Dois procedimentos são
utilizados para o cálculo dos horários das diversas fases de um
eclipse lunar: o chamado método clássico que considera os raios
aparentes da sombra e da penumbra aumentados em 2% para dar conta dos
efeitos da atmosfera terrestre e o método devido ao astrônomo
francês André Danjon que utiliza um valor aumentado da paralaxe
lunar para dar conta dos efeitos citados. No primeiro procedimento os
tamanhos da sombra e da penumbra são aumentados na mesma proporção
enquanto que no segundo método os aumentos são desiguais, o que
provoca alteração nos instantes previstos pelos dois métodos. 
A observação e a
cronometragem cuidadosas dos instantes em que a sombra da Terra passa
por algumas crateras lunares permitem acumular dados para que se
possa calcular o aumento de tamanho da sombra terrestre e decidir
qual dos dois procedimentos oferece os melhores resultados no cálculo
da previsão.
São necessários para
isso, além de um pequeno telescópio ou um binóculo, um relógio
aferido e um mapa da superfície lunar para que possam ser
identificadas as crateras. A tabela adiante fornece os instantes
previstos para a passagem da sombra terrestre em algumas crateras de
grande tamanho. Os instantes foram calculados pelo astrônomo
norte-americano Fred Espenak, da NASA.
Ao alcance do amador em
Astronomia está, também, a determinação do chamado Número de
Danjon, que indica o grau de obscurecimento e a coloração da Lua no
instante central do eclipse.
TABELA
4 - PASSAGEM DA SOMBRA TERRESTRE POR
ALGUMAS CRATERAS DA LUA
| 
IMERSÃO | 
CRATERA | 
EMERSÃO | 
CRATERA | 
| 
03:05 | 
Riccioli | 
05:30 | 
Riccioli | 
| 
03:07 | 
Aristarchus | 
05:31 | 
Grimaldi | 
| 
03:07 | 
Grimaldi | 
05:36 | 
Billy | 
| 
03:13 | 
Kepler | 
05:43 | 
Campanus | 
| 
03:16 | 
Billy | 
05:44 | 
Aristarchus | 
| 
03:18 | 
Pytheas | 
05:45 | 
Kepler | 
| 
03:20 | 
Plato | 
05:47 | 
Tycho | 
| 
03:20 | 
Timocharis | 
05:54 | 
Copernicus | 
| 
03:21 | 
Copernicus | 
05:56 | 
Pytheas | 
| 
03:26 | 
Autolycus | 
06:00 | 
Timocharis | 
| 
03:28 | 
Aristoteles | 
06:03 | 
Plato | 
| 
03:29 | 
Eudoxus | 
06:07 | 
Autolycus | 
| 
03:31 | 
Campanus | 
06:10 | 
Manilius | 
| 
03:33 | 
Manilius | 
06:12 | 
Aristoteles | 
| 
03:36 | 
Menelaus | 
06:13 | 
Eudoxus | 
| 
03:37 | 
Endymion | 
06:13 | 
Dionysius | 
| 
03:40 | 
Plinius | 
06:14 | 
Menelaus | 
| 
03:41 | 
Dionysius | 
06:18 | 
Plinius | 
| 
03:45 | 
Tycho | 
06:20 | 
Endymion | 
| 
03:48 | 
Censorinus | 
06:20 | 
Censorinus | 
| 
03:48 | 
Proclus | 
06:23 | 
Goclenius | 
| 
03:52 | 
Taruntius | 
06:26 | 
Messier | 
| 
03:52 | 
Messier | 
06:26 | 
Taruntius | 
| 
03:55 | 
Goclenius | 
06:27 | 
Proclus | 
| 
03:59 | 
Langrenus | 
06:28 | 
Langrenus | 
OUTRAS
INFORMAÇÕES TÉCNICAS SOBRE O ECLIPSE
Série:
O eclipse total da Lua de 15 de abril de 2014 é a repetição, após
um período de Saros, do eclipse total ocorrido em 20 de fevereiro de
1989. Ambos fazem parte da série de Saros nº 122, que se desenvolve
em torno do nodo ascendente da órbita lunar e que teve início com o
eclipse penumbral ocorrido em 14 de agosto de 1022 e que se encerrará
com o eclipse penumbral de 29 de outubro de 2338. A série em questão
terá, portanto, a duração de 1.316 anos. O presente eclipse é o
56º da série composta por 74 eclipses ( incluíndo os penumbrais e
umbrais parciais e totais ).
Ponto
Sub-lunar: No
instante do meio do eclipse a Lua estará no zênite do ponto da
superfície terrestre localizado a cerca de 3.000 km a sudoeste das
Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico.
TABELA 5 - OS PRÓXIMOS ECLIPSES DA LUA
| 
Nº
    
     | 
DATA
    * | 
TIPO | 
VISIBILIDADE
    NO BRASIL | 
| 
01 | 
2014.Out.08 | 
Total | 
Somente
    as fases iniciais serão visíveis no Brasil. | 
| 
02 | 
2015.Abr.04 | 
Parcial | 
Invisível
    no Brasil. | 
| 
03 | 
2015.Set.28 | 
Total | 
Inteiramente
    visível no Brasil. | 
* As datas referem-se ao instante do meio do eclipse em tempo legal do
fuso -3h (Tempo Legal do Distrito Federal-TDF).
Irineu Gomes Varella - MPEA IAG USP
 




 
 
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente matéria, Prof. Irineu. Sua forma de explicar e suas ilustrações, são extremamente elucidativas. Mais que um simples post para acompanhamento do eclipse do dia 15 de abril, um verdadeiro material para consulta. Vai para minha biblioteca virtual. Parabéns! Sidney Pedro.
ResponderExcluirObrigada, acompanhei o eclipse por essa imagem que você fez (figura 2), os horários bateram certinho, pude marcar o despertador para os horários que mais me interessavam! Foi ótimo!
ResponderExcluirObrigada de novo! Beijos.
Muito legal e oportuno esse post Irineu. Certamente foi bastante visualizado por ter sido publicado bem na semana do eclipse. Excelente escolha de data e tema. Gostei muito das figuras !
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